José de Almeida
José de Almeida, o líder histórico da Frente de Libertação dos Açores (FLA), nasceu a 10 de julho de 1935, na freguesia de Remédios, concelho de Ponta Delgada. Era filho de António de Almeida e de Sara da Conceição. Casou catolicamente a 9 de outubro de 1961 na freguesia de Odivelas, concelho de Loures, com Maria Teresa Rodrigues de Matos.
Segundo um texto de Carlos Melo Bento, intitulado “1 Século 5 Nomes”, foi “18º filho de uma família de lavradores da Bretanha, destinado pelos pais à vida religiosa e, por isso, obteve a sua formação secundária num seminário do norte de Portugal. Chegado à idade adulta, optou por abandonar a carreira religiosa, licenciou-se em histórico-filosóficas pela Universidade Clássica de Lisboa, fez o serviço militar em Angola durante a guerra de emancipação desta antiga província ultramarina, sendo depois colocado como professor em Viana do Castelo. Durante o consulado de Marcello Caetano é eleito deputado à Assembleia Nacional em 1973, cargo dissolvido aquando da restauração do regime democrático em 25 de Abril de 1974”.
“A loucura saneadora que se seguiu levou à sua demissão de diretor da escola secundária que dirigia e o regresso às origens açorianas onde de imediato se identifica com o movimento independentista que então eclodira na nossa cidade. De palavra fácil e discurso empolgante, José de Almeida ia transformar-se rapidamente no líder do Movimento. A sua capacidade de analisar a situação política com rigor e clareza, em cima do acontecimento, prevendo o futuro próximo com notável precisão, fizeram dele uma figura carismática seguida nos Açores por gente de todas as ilhas como até aí se não vira, em 5 séculos de história”, lê-se.
O 6 de Junho e as prisões ilegais que se lhe seguiram vão encontrá-lo nos Estados Unidos onde desenvolvia uma campanha dinamizadora na comunidade de emigrantes. “Bem apoiado, criou o governo dos Açores no exílio, que dirigiu, lançando uma notável campanha internacional para o reconhecimento do movimento que ficou conhecido por Frente de Libertação dos Açores (FLA)”.
Regressado ao Arquipélago, “conjugou os esforços de todos os independentistas que conduziu sem desfalecimento. Ficaram notáveis duas sessões no Teatro Micaelense que reuniram milhares de pessoas, facto que nenhuma das outras forças políticas conseguiu até hoje”, lê-se no texto. Aliás, na sua última intervenção pública, a 6 de junho de 2014, afirmou que “a luta pela independência vai continuar a ser um caminho”.
Nas suas palavras de então: “Apesar do que possam dizer, apesar do que possam pensar, estarmos aqui reunidos é uma manifestação de força. É uma manifestação de definição a dizer nós somos açorianos e queremos ser e vamos ser independentistas”.
José de Almeida falava numa sessão pública, promovida pela FLA para assinalar mais um aniversário do 6 de junho de 1976, quando uma manifestação juntou 10 mil pessoas em Ponta Delgada, na sua maioria lavradores, que se batiam por várias reivindicações e contra o regime de Lisboa.
Sempre admitiu que a FLA se sentiu “traída” neste percurso: “Nós tivemos traidores, gente que sabotou o raciocínio dos açorianos a caminho da independência”.
José de Almeida assegurava, naquela altura, como o fez sempre, que “há gente que sabe o que quer e que sabe que o melhor para os Açores é a independência”.
Fundou o jornal “O Milhafre”, que dirigiu, defendendo frontalmente a independência dos Açores, razão pela qual foi julgado várias vezes e sempre absolvido, tendo os tribunais reconhecido não ser crime a sua posição.
Entretanto Lisboa recuou na sua atitude repressiva em relação aos Açores. Criada uma Junta Governativa da responsabilidade do governo central, esta fez o que pode em termos de contra informação e obras públicas no sentido de diminuir o fosso que 500 anos de exploração criaram entre o continente da república.
Apesar da autonomia limitada “concedida” às ilhas, “a conjuntura política permite a Mota Amaral, entretanto eleito presidente do governo regional pelo PPD, trazer para o Arquipélago, largos milhões com que enceta a construção de imensas infraestruturas que até aí faltavam de todo. Quando os deputados daquele partido nos Açores deixaram de ser necessários à formação da maioria parlamentar em Lisboa, aquele hábil político estabelece com José de Almeida conversações semi-secretas que obrigaram o governo de central a ceder mais dinheiro e poderes práticos ao governo açoriano que permitiram neutralizar a longo prazo a premência do movimento independentista”.
A ruptura entre ambos era no entanto inevitável e teve consequências ainda hoje difíceis de analisar.
“Simbolizando, corajosamente e de facto, a mais forte manifestação de açorianismo jamais experimentada antes pelos açorianos, José de Almeida é o político açoriano que no século XX mais arriscou. Várias vezes a sua vida correu perigos sérios e a sua liberdade tomou-se num valor precário”, descreve Carlos Melo Bento.
Faleceu no dia 1 de dezembro de 2014, aos 79 anos, vítima de doença prolongada, no Hospital do Divino Espírito Santo, Ponta Delgada. O seu funeral realizou-se no dia 3 de dezembro após celebração Eucarística às 10H, na capela de Nossa Senhora das Mercês, Bairros Novos, seguindo o cortejo fúnebre para o cemitério de São Joaquim, Ponta delgada.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada homenageou-o, a 10 de julho de 2017, através da afixação de uma placa na casa onde nasceu. A homenagem surgiu na sequência de uma proposta apresentada pela Comissão Municipal de Toponímia, em 11 de junho de 2015 e aprovada, em reunião de Câmara, a 9 de dezembro do mesmo ano.